O título do segundo álbum da garota prodígio Dionne Bromfield, Good for the soul, tem muito a dizer. Em tradução livre, pode significar “bom para a alma” ou “bom para o soul”. As 14 faixas do CD são um bálsamo para o espírito e, ao mesmo tempo, mostram o surgimento de uma nova (e boa) geração na black music, liderada pela adolescente de 15 anos apadrinhada por Amy WineHouse. Nesse disco, a menina aposta em um estilo dançante, recheado de influências dos anos 1960.
Ao ouvir o CD, a primeira coisa que chama atenção é a voz anasalada e potente parecida com aquela de Amy. A diferença primordial em Dionne é o agudo marcante — fruto da juventude da cantora. Tal característica é aproveitada pelos produtores para criar uma espécie de assinatura, uma marca própria. Na música título do álbum, Good for the soul, ela mostra uma voz potente e cativante, combinando com as batidas ritmadas do soul.
O estilo de soul dançante, que é a tônica do disco, induz a uma comparação imediata da adolescente com a madrinha. Este Good for the soul é completamente influenciado por Back to the black (gravado por Amy em 2006), a diferença está apenas nas batidas. Enquanto Winehouse flertava com o rock’n’roll, com baixos e guitarras mais agressivas, Dionne prefere se manter em uma linha de black music mais tradicional. A semelhança dos trabalhos é comentada pelo crítico inglês Mike Diver, para quem a moça ainda não tem uma marca. “Um pouco mais de experiência de vida e Bromfield vai ter o essencial para uma carreira marcante. Até lá, esse CD mostra que ela continua na certa e gradual subida sem um estilo próprio, mas talentoso”, comentou à BBC.
Em Good for the soul, a jovem cantora mostra personalidade ao apostar em seu talento vocal. Apesar dessa escolha parecer óbvia, ela surpreende por conta do atual momento da indústria pop, infestada por batidas eletrônicas, sintetizadores e mixagens capazes de esconder qualquer nota fora do tom. Mesmo com a forte produção do disco, com uso de diversos recursos de estúdio, a voz da cantora sempre aparece em primeiro plano.
Além de Amy Winehouse, outras referências da adolescente se evidenciam de forma clara no CD. A menina é uma aficionada dos clássicos do soul e bebe na fonte de craques como: Lauryn Hill, Aretha Franklin, Diana Ross, Millie Mall e The Marvelettes. O trabalho desses cantores pode ser percebido nas faixas que compõem o disco. O suingue marcante de Hill e Franklin estão presentes em faixas mais groovies como Too soon to call it love (Muito cedo para chamar isso de amor, em inglês) e Remember our love (lembre-se do nosso amor, em inglês).
O único single do CD, Follin’, é a música mais impressionante do novo trabalho. Animada, ritmada, a canção é empolgante do começo ao fim. A faixa é capaz botar qualquer pessoa para dançar com os versos “Eu não estou me enganando/Você é o melhor professor que eu conheci/Eu não estou me destruindo/Estou olhando, aprendendo com você”.
If that’s the way you wanna play (Se esse é o jeito que você quer jogar, em inglês) é a melhor faixa. Uma bateria forte, um baixo marcante e instrumentos de sopro que operam trocas de ritmos constantes acompanham Dionne nessa canção com cara de clássico do R&B. Em alguns momentos, é difícil acreditar que é uma menina de 15 anos cantando.
Filha da internet
A inglesa Dionne Bromfield apareceu para o mundo na internet. A menina gravou um vídeo no qual cantava If ain’t got you ao lado de Amy Winehouse. Em pouco tempo, ela ficou conhecida por milhões de pessoas. A partir de 2009, a jovem começou a levar a carreira a sério e assinou com a gravadora da madrinha — Lioness Records. O primeiro disco, Introducing Dionne Bromfield, foi lançado no mesmo ano e contava com regravações de artistas do R&B e do soul.
Memórias póstumas de Amy Winehouse
Back to Black, gravado em 2006, foi o último álbum gravado por Amy Winehouse antes de sua morte, em julho. Depois dele, a cantora fez várias idas e vindas aos estúdios sem conseguir terminar um disco por conta de seus problemas com álcool e drogas. Agora, os produtores Salaam Remi, Mark Ronson e Mitch Winehouse selecionaram 12 faixas — entre inéditas e regravações — para compor o póstumo Hidden treasures (Tesouros escondidos, em inglês), que chega às lojas em 5 de dezembro.
A expectativa em torno do CD é imensa, pois Amy deixou um repertório pequeno comparado a outras estrelas do seu porte. O disco mistura versões de clássicos da cantora, como Wake up alone, Tears dry on their own e Valerie, com músicas desconhecidas do público: Halftime e A song for you.
Repertório
A faixa de abertura do álbum, Our day will come, é uma versão de Amy para o clássico do doo-wop gravada pela primeira vez nos anos 1960. A música é, até agora, o único single de Hidden treasures. O videoclipe, já disponível na internet, traz uma compilação de imagens inéditas de bastidores de shows, apresentações e cenas de clipes da cantora.
A canção Body & soul, gravada em março de 2011, em dueto com Tony Bennett, também foi selecionada para o álbum. A canção dá um tom nostálgico ao CD, necessário em toda obra póstuma. A música é a preferida de Mitch Winehouse. “Quando meu pai soube que eu ia cantar Body & soul, ele disse ‘oh! É minha música predileta’. Foi muito bom gravar porque é uma canção realmente linda”, opinou a cantora em entrevista de divulgação.
O público brasileiro, que já comprou 700 mil CDs de Amy, também terá sua homenagem no disco. A inglesa gravou uma versão do clássico de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. The girl from Ipanema mistura bossa nova com R&B, em uma canção empolgante.
Like smoke é uma parceria da cantora com o rapper Nas, produzida originalmente em 2008. Na verdade, trata-se de uma versão demo da canção, que dá aquele ar de inacabado ao som. Andy Gil, crítico do jornal inglês The Independent, entende que a presença do parceiro é desnecessária para a música. “Ele substitui sem brilho a voz da própria Amy, que aparece em eventuais la-la-las sem significado, apenas tentativas de criar uma melodia”, afirma.