terça-feira, 31 de maio de 2011

Lady Gaga: " Nao gosto de ser tao literal sempre!"




Para um perfil para a seção Arts and Leisure, Jon Pareles sentou-se com Lady Gaga no momento em que ela se preparava para o lançamento de Born This Way, seu segundo álbum de estúdio. "Este disco é tão cativante e euforicamente exagerado quanto a música que fez dela uma sensação", escreveu o senhor Pareles sobre a super estrela pop. "Também acrescenta uma nova dimensão às suas músicas: a ótima relação que tem com sua enorme audiência - fãs que chamam a si próprios de Pequenos Monstros ("Little Monsters") e para quem ela é uma deusa, uma grande irmã, uma pessoa a se inspirar, uma conselheira e uma líder de torcida".
Lady Gaga fala sobre seu novo som estilo "highway unicorn", seu infame vestido de carne e sobre comer almôndegas com seu pai.

The New York Times - Na mídia e na TV, sempre há muita ênfase em seu lado visual, mais até do que em você como musicista.

Lady Gaga - Nos anos 1970 e 1980, se estivéssemos falando sobre artistas que eram grandes na época, imagem e música estavam sempre andando lado a lado e não havia realmente esse tipo de coisa de colocar um como mais importante do que o outro. É apenas o show business. Eu estou no show business e adoro criar visuais lindos. Sou uma artista performática. A música é parte disso e eles vivem um ao lado do outro. Sempre que estou criando música, imagino como irá ficar depois. Se quero criar uma música baseada num visual, vou começar com uma ideia e construirei a partir disso - e eu sempre gosto de misturar as coisas. Sempre gosto que tenha um pouco de adversidade. Não gosto de ser tão literal sempre. Não precisa ser tão literal, é muito mais figurativo. E eu penso às vezes que, dessa forma, meu trabalho chega mais às cabeças das pessoas e elas apenas pensam...eu não sei o que elas pensam que é, mas sei o que é, e é para significar uma representação simbólica de como minha música se relaciona e como meus fãs a relacionam com a cultura moderna. Por exemplo, o vestido de carne. Eu fiz um discurso em Maine sobre igualdade, contra o "não pergunte, não conte" ("Don't Ask, Don't Tell, política para homossexuais no exército americano), e no discurso o chamei de igualdade costela nobre da constituição americana. E quando saí de lá com os soldados que foram libertados no Grammy - desculpe, nos prêmios MTV - eu usei uma costela nobre (prime rib), usei carne, então, isso foi um fragmento de uma performance. Mas algumas pessoas se focaram mais no humor e no quão hilário era a cena de eu usando carne e acabaram não entendendo a mensagem. Quando usei originalmente carne na Vogue, era isso que queria dizer. Quando usei carne na capa da Vogue japonesa, queria dizer que eu era um pedaço de carne, eu estava nua, exceto pela carne. O resultado de tudo isso é que comecei a trabalhar como ativista política. Muito de meu trabalho é dessa forma. Eu meio que comecei com a ideia e isso cresceu e muda a própria forma como as pessoas começam a interpretar isso para elas mesmas.

The New York Times - Conte-me o que está por trás de Government Hooker.

Lady Gaga - Eu originalmente escrevi essa canção por diversão, e enquanto a escrevia pensei sobre a ideia de que o mais fabuloso e mais alto escalão da puta ou da prostituta são aquelas que dormem com políticos, as putas do governo (government hooker). Então, comecei a pensar sobre o fato de muitas mulheres da história terem tido casos com homens importantes e como essas mulheres afetaram políticas, e como essas mulheres afetaram as decisões desses homens. Como uma espécie da outra mulher atrás do homem. E a intenção era que essa fosse uma música de autorização reversa. Em vez de ser chamada de uma prostituta, você se chama de prostituta e assume esse poder para si. Eu acho que imaginei em minha mente uma gigantesca personalidade política no fundo do quarto com uma linda mulher e ela exerce influências sobre ele para votar sim ou não no Senado.

The New York Times - É bastante claro quando a vemos ensaiando que você não está recebendo ordens de ninguém.

Lady Gaga - Tem sido um privilégio no sentido de que eu nunca precisei trabalhar com pessoas, principalmente recentemente, nunca tive que trabalhar com ninguém que tivesse um ego tremendo e isso tem sido uma benção para mim. Porque eu sempre fui essa garota, como compositora, que iria ao estúdio com um produtor que, sabe, tentaria me fazer sair e beber com ele, e meu comportamento na verdade era dizer: 'nós iremos escrever essa canção ou vamos sair? Porque eu só estou aqui para escrever, para ser uma super estrela, eu não preciso do seu 'rolo de sushi', você entende o que eu digo? Tem sido realmente, realmente gratificante para mim ser respeitada pelas pessoas que eu respeito como músicos. Acima de todas as coisas, neste álbum, foi importante para mim ter evoluído musicalmente.


The New York Times - Que tipo de evolução?

Lady Gaga - Foi natural e cresceu ainda mais com o show. O que faria esse show melhor, o que o faria maior. Eu sabia que queria que o show fosse épico, sabia que queria que houvesse um pouco das influências do rock da década de 1980, eu sabia que queria que fosse algo como chamo de som Highway Unicorn, no qual há um elemento de fantasia, essa criatura mítica, esse lindo unicórnio preto com uma grande crista loira escorrendo pela estrada e com Bruce Springsteen tocando de fundo. Esse foi o tipo de visual que estava na minha cabeça.

The New York Times - A primeira imagem que as pessoas verão em Born Yhis Way é a capa do álbum.

Lady Gaga - Ela tem a mim como metade mulher, metade motocicleta. O significado que eu queria era que ela fosse um testamento de liberação através da transformação. Eu estou continuamente me transformando e dirigindo, e sou um veículo para a voz dos meus fãs, para a voz de minha criatividade, e sempre estou em uma viagem de liberdade comigo mesma. E a todos aqueles que precisam ou querem lutar, suar e chorar por sua identidade. É isso que eu sou - é melhor você saber quem é antes de entrar no ringue para lutar.

The New York Times - Você pensa muito sobre seus fãs, os "Pequenos Monstros" (Little Monsters).

Lady Gaga - Os fãs mantêm isso vivo o tempo todo e é por isso que eu sou tão apaixonada por meus fãs e os venero tanto, porque eles realmente existem fora da música pop. Eles não ligam para a percepção que o público tem de mim. Eles apenas amam o show, amam sua liberdade, amam o show business, amam a fantasia da vida e eles vivem isso todos os dias. E é assim que eu consigo seguir em frente, sabendo que eles continuarão carregando a tocha da magia comigo.

The New York Times - Eu estou olhando para essas botas que você está vestindo. Não deve ser fácil dançar com esses saltos altos
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Lady Gaga - Esses são saltos de stripper Penthouse de uma loja na 8th street (em West Village, Nova York). Eu costumava usá-las sempre. Quando nós fizemos o show, eles me trouxeram esses sapatos chiques e eu disse, 'eu não os quero, quero os meus sapatos'. Eles são ótimos e têm uma aparência fabulosa. Eu os usei regularmente por mais ou menos um ano e então, eventualmente, acho que alguém os experimentou, os experimentou para mim para ver se eles iriam escorregar no chão em algum lugar, e eles disseram, 'não há suporte nesses sapatos - como você está fazendo para usá-los todas as noites?'. E eu apenas encolhi meu ombros. Quero dizer, meu sucesso aconteceu tão rapidamente que às vezes nem me lembro de perguntar questões como, 'nós conseguiríamos suporte nesses saparos e o reconstruiríamos?'. Então, agora eles têm solas internas e coisas que colocaram dentro deles para mim. Quem imaginaria que eu falaria com o The New York Times sobre solas internas?

The New York Times - Então você está tocando em arenas usando sapatos baratos?

Lady Gaga - Eu acho que chega um ponto em que as pessoas imaginam que, após ter vendido 20 milhões de discos, graças a Deus, eu iria, de repente, alisar meu cabelo, faria um coque nele e me transformaria numa princesa, e isso não vai acontecer. Eu apenas continuarei sendo eu mesma. A percepção é que você se transforma quando atinge certo ponto, e, enquanto minha base de fãs continua se expandindo, eu também sou lembrada todo dia por mim mesma que não quero mudar para construir minha base de fãs, eu só quero continuar a fazer os que sempre estiveram lá se sentirem amados e felizes. Eu sempre digo, não entrei nesse negócio, ou na música, para ser adorada. Faço isso porque amo e agora que tenho fãs, a energia e a ambição me guiaram para um novo lugar que é para onde eu quero fazer tudo o que posso para inspirá-los a se amarem uns aos outros.

The New York Times - Mas você é adorada também.

Lady Gaga - Eu aprecio a adoração de meus fãs. Agora mesmo, enviei uma mensagem no Twitter para eles e chorei por 30 minutos hoje porque colocamos Edge of Glory no iTunes e ela recebeu críticas tão mágicas e os fãs ficaram tão felizes e escreveram coisas tão legais sobre mim. E eu lembro, chorei hoje, e lhes disse, 'apenas agradeço por todas as coisas legais que vocês disseram'.

The New York Times - Você pode me dizer mais sobre The Edge of Glory?

Lady Gaga - Eu escrevi esta música sobre meu avô quando ele morreu e significa muito para mim. E Clarence Clemons tocou saxofone e o ouvi enquanto crescia, então, isso representa minha juventude. A canção era sobre como minha avó ficava ao lado de meu avô quando ele estava morrendo. Em dado momento, senti como se ele meio que olhasse para ela e avaliasse que ele teve sua própria vida. Como, eu sou um vencedor, nós vencemos. Nosso amor nos fez vencedores. Eles era casados havia 60 anos. E então nós saímos e ele morreu. E eu pensei sobre essa ideia, que o momento glorioso de sua vida é quando você decide que está tudo bem em ir embora, você não ter mais palavras a dizer, mais negócios, mais montanhas para escalar. Você está no penhasco, levanta seu chapéu e vai. E foi assim que foi para mim aquele momento que testemunhei. E então, quando comecei a escrever a música, pensei sobre, você sabe, viver no limite sua vida de um modo que, quando você atinja aquele momento, seja glorioso. A letra é: é quente sentir a afobação, escovar o perigo, não ter medo de se apaixonar perdidamente, não ter medo de mudar todo o caminho para bordar sua imaginação.

The New York Times - Ela tem uma grande coda - passagem constituída de vários compassos, que se acrescentam a um trecho de música, para terminar com mais brilho.

Lady Gaga - A coda é muito sexy e é como se o saxofone cantasse por mim. Eu não preciso cantar, só preciso colocar um vestido de esmeralda verde e sair rodopiando em alguma esquina qualquer.

The New York Times - Cair na estrada faz você se sentir isolada pelo fato de conviver tanto no ônibus quanto no backstage com o mesmo grupo de pessoas?

Lady Gaga - Eu me apresento para uma arena toda as noite e acabo conhecendo 50 mil pessoas ou 20 mil pessoas todas as vezes. Realmente depende da forma como você aborda sua vida quando isso acontece. Eu poderia estar em clubes noturnos todas as noites saindo com celebridades, mas não. Estou no estúdio, estou trabalhando, volto para Nova Yotk, saio com meu pai, que me prepara almôndegas.