Numa entrevista na entrada do Staple
Center, o ator, rapper e apresentador LL Cool J dizia que o Grammy de
2012 tentaria respeitosamente homenagear Whitney Houston, morta na
véspera, sem deixar que a tristeza do ocorrido ofuscasse a principal
razão da festa: celebrar a música.
Foi assim, assombrada pela perda de
uma das suas mais premiadas cantoras, mas tentando fazer o show
continuar, que a cerimônia promovida pela indústria fonográfica
americana consagrou uma outra intérprete: Adele. A cantora britânica
ganhou os seis prêmios a que concorria, entre eles gravação do ano e
disco do ano.
Ela também foi aplaudida de pé pela redentora
interpretação de Rolling in the deep - que vendeu quase seis
milhões de cópias em 2011 - comprovando estar recuperada dos recentes
problemas na gargante. O Foo Fighters ganhou cinco prêmios (entre eles,
performance de rock por Walk) numa noite que teveTom Jobim homenageado com um prêmio honorário e que foi encerrada com Paul McCartney lembrando os Beatles.
Nova estrela das pistas americanas, o DJ
Skrillex, de 24 anos, ganhou os prêmios de melhor gravação dance,
melhor disco de eletrônica e melhor remix, não exibidos na transmissão
pela TV.
Mas Chris Brown, Lil Wayne, David Guetta,
Foo Fighters, e Deadmau5 (com sua cabeça de rato) foram ao ar, com uma
apresentação conjunta, numa tenda fora do teatro, comprovando a chegada
da eletrônica ao mainstream e o consequente interesse da indústria pelo
gênero.
A transmissão foi aberta por Bruce Springsteen e sua E Street Band (incluindo Steve Van Zand, o Silvio Dante, de Os Sopranos), com We take care of our own,
aplaudido por Paul McCartney numa das primeiras filas. Em seguida, o
mestre de cerimônias LL Cool J subiu ao palco e fez a a primeira
homenagem da noite a Whitney.
"Tivemos uma morte em nossa família
Grammy e o que podemos fazer agora é pedir um momento de prece para
quem se foi", disse ele, silenciando por alguns arrepiantes segundos
todo o auditório. Depois, exibiu um vídeo com a diva em esplendorosa
interpretação de I will always love you.
Concorrente a álbum do ano, Bruno Mars, o
topetudo cantor havaiano, que mistura rock e soul, fez uma energética
interpretação de Runaway baby, mas não pareceu muito felilz quando foi anunciado que Adele era a vencedora da melhor performance pop solo por Someone like you.
Ao receber a primeira estatueta da série, ela agradeceu aos medicos.
"Eles me deram minha voz de volta". Antes, Alicia Keys e Bonnie Raitt
fizeram uma homenagem a Etta James cantando A sunday kind of love.
Ex-namorado e agressor de Rihanna, Chris
Brown surgiu mais techno do que hip hop ou r&b, dançando sobre
cubos num medley que incluiu Look at me now. Depois, Fergie e Marc Anthony apresentaram o prêmio de melhor performance de rap, que foi para Jay Z e Kanye West por Otis,
ambos ausentes da cerimônia - West, dizem, porque foi excluído das
principais premiações e por não ter sido escalado para se apresentar no
evento.
Elogiado por Jack Black, que chamou o
grupo de "o único capaz de encarar o Grammy no olho e ainda manter suas
credenciais indie", o Foo Fighters deixou para trás Radiohead e
Coldplay na categoria performance de rock. No agradecimento pelo
prêmio, Dave Grohl elogiou as imperfeições inerentes à criação musical.
O cruzamento de Rihanna com o Coldplay começou com a cantora, de mechas
louras, interpretando a eletrônica We found love, seguida por "Princess of China", já com Chris Martin, monótono, ao violão. A banda finalizou o morno encontro com Paradise.
Um dos momentos mais esperados da noite, a homenagem aos 50 anos dos Beach Boys começou com o Maroon 5 afogando Surfer girl e depois com o Foster The People magoando Wouldn´t it be nice.
Felizmente, o lendário grupo surgiu em cena, com "Good vibrations",
trazendo Brian Wilson nos vocais e piano. Focalizada no meio do show,
Lagy Gaga, de máscara e cetro, parecia um peixe fora d´água.
Stevie Wonder também saudou Whitney e
apresentou "a lenda" Paul McCartney. Acompanhado por Diana Krall no
piano) e Joe Walsh (ex-Eagles) no violão, o ex-Beatle exibiu My valentine,
uma das duas músicas novas que compôs para o disco de standards "Kisses
on the bottom".
Na apresentação de melhor disco de R&B, Common fez
justiça e lembrou o poeta e precursor do rap, Gil Scott-Heron, morto
recentemente. Depois entregou a estatueta ao polêmico Chris Brown que
agradeceu a Deus por "F.A.M.E.".
Bon Iver pareceu mais verdadeiro,
quando se declarou "desconfortável" com o prêmio de artista revelação.
Depois de alfinetar o comercialismo do Grammy ("Sempre fiz música por
prazer", afirmou), ele agradeceu a todos em Wisconsin.
Acompanhanda apenas por um piano, Jennifer
Houston, que havia chorado nos ensaios, foi firme na principal
homenagem da noite a Whitney Houston, cantando com emoção I will always love you.
Mais radical, Nicki Minaj brincou com exorcismo e religião antes do
funk provocativo de "Roman holiday".
Equilibrando a balança, Paul
voltou ao palco após a última premiação de Adelle, encerrando a noite
com um medley dos Beatles, acompanhado por Springsteen, Walsh e Grohl,
todos compartilhando solos de guitarra, à moda antiga, em 2012.