A
abastada programação de cantoras pop deste ano se encerra hoje, no festival F1
Rocks, com o show da novata inglesa Jessie J. De Britney a Katy Perry, foram
apresentações mecânicas, vendidas a preços salgados, sem nenhuma performance
notável ou algo que fugisse do script para dar brilho e personalidade às noites
(neste quesito, o melhor show foi o das fãs de Justin Bieber, que se entregam
mais ao que fazem - gritar e chorar - do que qualquer pop star importado).
O saldo
deve permanecer o mesmo hoje à noite, no Via Funchal (a cantora de soul Macy
Gray também se apresenta), pois Jessie J procura chegar ao nível dessas divas
com um pop previsível, que pouco faz além de seguir as diretrizes das outras. O
hit "Price Tag", que já tem 164 milhões de acessos no YouTube, por
exemplo, é uma mescla das influências vocais dub de Rihanna com a paixonite
adolescente de Kelly Clarkson. Com uma leve alteração, a progressão de acordes
I -V-VI-IV (velhíssimo truque, usado em "With Or Without You", do U2,
"No One", de Alicia Keys e "She Will Be Loved", do Maroon
5) é reciclada sem nenhuma criatividade.
A
progressão e a melodia desmedidamente adocicada vão contra a letra de
"Price Tag" (etiqueta de preço), que é um manifesto ingênuo sobre a
ganância, pois fama a qualquer custo parece ser exatamente a estratégia de
Jessie J. "Price Tag" ainda tem um batidão de soul, na onda de Adele
e de Amy Winehouse: obra de produtores sem imaginação que tentam emplacar
cantoras como mercadorias. A ligação com o soul de Amy e Adele não é clara na
música. Mas, em entrevista no início de novembro, a cantora afirmou: "Amy foi
padrão para as outras. Depois que ela se foi, nós estamos em falta de um
talento como o dela. Eu quero levar isso para frente. Quero fazer isso
durar", disse. Ao contrário de muitas divas, Jessie J ao menos tem alguma
influência em sua própria música. Em 2009 fez a letra de "Party in the
U.S.A.", mega hit de Miley Cyrus e "Price Tag" tem suas digitais
(embora o crédito seja dividido com Dr. Luke, o hitmaker mais requisitado da
atualidade).
Melhor
Macy Gray, que também não inova, mas tem voz suficiente para fazer pop
ensolarado e passável, como o do hit "Beauty In The World". Com uma
discografia de cinco títulos, Macy já está há algum tempo na estrada e garante
um bom show, o que não é novidade, pois Macy esteve no Brasil para o festival
Back to Black em agosto. Deve dar ao Via Funchal um climão "de bem com a
vida" como o do festival Natura Nós.